Os Braços da Santá Sé — Dos Ritos aos Negócios

Bruno Oliveira
19 min readMay 11, 2021

--

Você sabia que a Igreja Católica é atualmente constituída por 24 Igrejas autônomas “sui juris?

Pois é! A Igreja Católica não se limita ao rito romano. Ela é uma grande comunhão de 24 Igrejas, sendo 1 ocidental e 23 orientais.

e

O ramo ocidental é representado pela tradição latina da Igreja Católica Apostólica Romana. É chamado “ocidental” por conta da localização geográfica de Roma e não porque a sua presença se restrinja a países do Ocidente: na verdade, a Igreja Católica de rito romano está presente no mundo inteiro e tem dioceses em todos os continentes, de Portugal ao Japão, do Brasil à Rússia, de Angola à China, do Canadá à Nova Zelândia.

As Igrejas católicas orientais também têm fiéis espalhados pelo mundo, mas, por razões históricas, estão mais fortemente presentes nos lugares onde surgiram. Possuem tradições culturais, teológicas e litúrgicas diferentes, bem como estrutura e organização territorial própria, mas professam a mesma e única doutrina e fé católica, mantendo-se, portanto, em comunhão completa entre si e com a Santa Sé.

Todas as 24 Igrejas que compõem a Igreja Católica são consideradas Igrejas “sui juris”, ou seja, são autônomas para legislar de modo independente a respeito de seu rito e da sua disciplina, mas não a respeito dos dogmas, que são universais e comuns a todas elas e garantem a sua unidade de fé — formando, na essência, uma única Igreja Católica obediente ao Santo Padre, o Papa, que a todas preside na caridade.

A legislação de cada Igreja “sui juris” é estudada e aprovada pelo seu respectivo sínodo, ou seja, pela reunião dos seus bispos sob a presidência do seu arcebispo-maior ou patriarca. Por exemplo, a Igreja Melquita é presidida por um patriarca, enquanto a Igreja Greco-Católica Ucraniana por um arcebispo-maior. O rebanho dos fiéis católicos de rito latino é guiado diretamente pelo Papa Francisco, bispo de Roma, que é também o líder de toda a grande comunhão da Igreja Católica em suas diversas tradições.

É muito comum até hoje, em especial no Ocidente, confundir a Igreja Católica com o rito latino, um erro que vem acontecendo há séculos e que, ao longo da história, já causou sérios prejuízos aos católicos de ritos orientais. O que é preciso entender é que todos os católicos latinos são, obviamente, católicos; mas nem todos os católicos são católicos latinos. E esta é mais uma das tantíssimas riquezas do infinito tesouro da Igreja que é Una, Santa, Católica e Apostólica!

O Concílio Vaticano II reconheceu que todos os ritos aprovados pelas Igrejas que formam a Igreja Católica têm a mesma dignidade e direito e devem ser preservados e promovidos.

Aliás, por falar em rito, outra confusão frequente é feita entre o rito latino e o rito romano: os termos costumam ser usados como sinônimos, mas, tecnicamente, além do rito romano, também existem outros ritos latinos de certas Igrejas locais, como o ambrosiano, e os de algumas ordens religiosas, além do rito tridentino. Mas eles não estão vinculados a Igrejas autônomas “sui juris“, sendo diferentes ritos dentro da mesma tradição latina da Igreja Católica. Quanto aos ritos orientais, as diferenças são mais marcadas pela diversidade de tradições e há vínculos históricos entre os ritos e as Igrejas “sui juris” específicas que os adotam: são eles o alexandrino ou copta, o bizantino, o antioqueno ou siríaco ocidental, o caldeu ou siríaco oriental, o armênio e o maronita.

Igreja Síria Jacobita Cristã

Só para lembrar. A Igreja Católica constitui uma reunião de seis ritos, que estão subdivididos em 23 igrejas, e todas reconhecem o primado do papa. O maior é o latino, de que faz parte o latino-romano…

Mas quais são, afinal, as Igrejas “sui juris” que formam a Igreja Católica? Eis a impressionante lista:

A partir do século IV, se conhecem quatro tipos gerais de liturgia eucarísticas das quais três tiveram sua formação ao redor das grandes igrejas patriarcais: Antioquia, Alexandria e Roma. São estes os “ritosfontes”. Ainda se deve adicionar um quarto rito, o rito dito “galicano”, que junto com os demais estão na origem dos ritos “derivados” que serão finalmente celebrados em todo o mundo católico.

O rito galicano é um termo genérico sob que reúne ritos ocidentais latinos, mas não romanos. Título comum que compreende tanto o rito observado na Gália quanto, com algumas variantes, na Espanha, na Bretanha, no norte da Itália e em outras regiões.

Os historiadores não estão de acordo sobre as origens desse rito, mas parece certo que o mesmo constitui um uso diferente do de Roma. Os dois se desenvolveram paralelamente, sofrendo influências recíprocas, dos séculos VI ao VIII, até o momento em que o galicano é absorvido pelo romano sob a influência de grandes missionários: Santo Agostinho, na Inglaterra (597) e São Bonifácio na Germânia (+754); sob a influência também de Carlos Magno que, desejando para seu reino uma uniformidade litúrgica, deu-lhe como base o rito observado em Roma.

Até o final do século 19 o rito latino da Igreja Ocidental era composto por duas outras liturgias da Igreja, que estão agora extintas, a saber:

✴ O Galicano (Franco), centrado principalmente na França e na Europa central, com seu uso litúrgico Lionês (Arquidiocese de Lyon na França); e

✴ O Céltico (britânico), centrado principalmente na Inglaterra, com seu uso litúrgico Sarum.

Os únicos sobreviventes do rito galicano comum foram o rito dito “mozarábico” ou “moçárabe”, usado em toda a Espanha até o século XI e que subsiste ainda em Toledo e do rito denominado “ambrosiano”, ainda hoje observado em Milão.

A Igreja Católica possui 6 ritos (algarismos romanos), que estão subdivididos em 23 igrejas (algarismos árabes) e todas reconhecem o primado do Papa.

A Igreja Católica possui 6 ritos (algarismos romanos), que estão subdivididos em 23 igrejas (algarismos árabes) e todas reconhecem o primado do Papa

Além disso, para os fins de registro, existe uma série de outros assim chamados de ritos, conhecido como “ritos históricos das ordens religiosas”, que não são verdadeiramente ritos em si, mas principalmente as variações do Rito Latino relacionadas àquelas ordens São eles:

✴ Rito Litúrgico Cartuxo

✴ Rito Litúrgico Cisterciense

✴ Rito Litúrgico Dominicano

✴ Rito Litúrgico Premonstratensiano da Abadia de Nossa Senhora de Tongerlo (Antuérpia)

✴ Rito Litúrgico Franciscano

✴ Rito Litúrgico Beneditino

✴ Rito Litúrgico Servita

✴ Rito Litúrgico Carmelita do Santo Sepulcro

Em anos recentes alguns clérigos anglicanos, com suas congregações inteiras voltaram à comunhão com a Igreja Católica. A Santa Sé permitiu uma Liturgia de Uso Anglicano a ser celebrada pelos ex-ministros anglicanos que se tornaram católicos. A Liturgia de Uso Anglicano consiste no Livro de Orações Comum da liturgia anglicana, com algumas adaptações advindas Ordo do Papa Paulo VI (a Liturgia Romana Revisada ou o Novus Ordo)

Igreja Etíope

Esquema dos Ritos Católicos

O esquema a seguir mostra várias famílias litúrgicas Católicas (ritos). A Igreja Católica do Ocidente veio primeiro no tempo. A partir de três principais centros da fé católica — Roma, Antioquia e Alexandria — irradiaram os 6 ritos atualmente em uso no seio da Igreja Católica Apostólica Romana — o Rito Latino — e os outros 5 ritos distribuídos dentre outras 22 Igrejas Católicas do oriente em comunhão com o Romano Pontífice, o Papa.

Fonte e Tradução: Missa Gregoriana

AS ORDENS

Se você é como eu, nunca se lembra dos nomes das ordens religiosas que dirigem sua escola, paróquia ou outra instituição, muito menos quem as fundou, seus lemas, brasões ou características de sua espiritualidade. Bem, aqui está uma rápida atualização para 9 das ordens religiosas mais conhecidas da Igreja Católica; Franciscanos, Cartuxos, Jesuítas, Beneditinos, Salesianos, Missionários da Caridade, Dominicanos, Agostinianos e Carmelitas. Eles foram iniciados por alguns dos mais notáveis ​​homens e mulheres da fé católica, incluindo São Francisco de Assis , Santo Inácio de Loyola , São Bento e Santa Madre Teresa de Calcutá . Ou teve uma das santas mulheres mais famosas como a ordem carmelita com Santa Teresinha de Lisieux .

Franciscanos (Ordem dos Frades Menores)

  • Fundador: São Francisco de Assis
  • Lema: “Pax et bonum” (Paz e o bem)
  • Tipo: Ordem Religiosa Mendicante
  • Hábito: Cinza / Preto (Convencional); Marrom (capuchinhos)
  • Características da espiritualidade: Viver o Evangelho, Seguir Jesus Cristo, Pobreza, Fraternidade
  • Santos notáveis: Santo Antônio de Pádua, São Boaventura, Santa Clara de Assis, São Pio de Pietrelcina, São Maximiliano Kolbe

Cartuxos (Ordem dos Cartuxos)

  • Fundador: São Bruno de Colônia
  • Lema: “Stat crux dum volvitur orbis” (A cruz é firme enquanto o mundo está girando)
  • Tipo: Ordem Religiosa Monástica
  • Hábito: Branco
  • Características da Espiritualidade: Contemplação, Vocação de solidão, Mistura de vida solitária e comunitária, A liturgia cartuxo caracterizada por sua simplicidade e sobriedade
  • Santo Notável: São Hugo de Lincoln

Jesuítas (Companhia de Jesus)

  • Fundador: Santo Inácio de Loyola
  • Lema: “Ad maiorem Dei gloriam” (Para a maior glória de Deus)
  • Tipo: Ordem Religiosa
  • Hábito: Eles não usam um hábito ou uniforme especial
  • Características da Espiritualidade: Encontrar Deus em tudo, Amar Jesus Cristo, A importância do serviço, Discernimento espiritual, Educação
  • Santos notáveis: São Francisco Xavier, São Aloysius Gonzaga

Beneditinos (Ordem de São Bento)

  • Fundador: São Bento de Nursia
  • Lema: “Ora et labora” (orar e trabalhar)
  • Tipo: Ordem Religiosa Monástica
  • Hábito: hábito negro. Algumas congregações usam o hábito branco.
  • Características da Espiritualidade: Oração e trabalho manual diário, A importância da Escritura e do Ofício Divino, Vida comunitária e amor fraterno, Obediência como discernimento da vontade de Deus
  • Santos notáveis: Santa Escolástica, São Gregório Magno

Salesianos (Sociedade de São Francisco de Sales)

  • Fundador: São João Bosco
  • Lema: “Da mihi animas caetera tolle” (Dê-me almas, tire o resto)
  • Tipo: Congregação religiosa clerical
  • Hábito: Eles não usam um hábito ou uniforme especial
  • Características da espiritualidade: Caridade pastoral, Alegria e otimismo, Trabalho e temperança, Pastoral dos jovens, Ascetismo do bem, Enraizamento em Cristo e a vida nas mãos de Maria
  • Santos notáveis: São Domingos Salvio, Santa Maria Mazzarello

Missionários de Caridade

  • Fundadora: Santa Madre Teresa
  • Lema: “Tenho sede” (lema que resume a experiência de Madre Teresa com Deus: Ele tem sede de nós)
  • Tipo: Instituto Religioso de Direito Pontifício
  • Hábito: sari branco com borda azul
  • Características da Espiritualidade: Amor universal, União com Jesus, Presença de Nossa Senhora, Cristo irradiante, O mistério de Jesus na pessoa dos necessitados
  • Outros ramos da Ordem: Irmãos Missionários da Caridade, Irmãos e irmãs contemplativos, Padres Missionários da Caridade

Dominicanos (Ordem dos Pregadores)

  • Fundador: São Domingos de Caleruega
  • Lema: “Laudare, benedicere, praedicare” (Louvar, abençoar, pregar)
  • Tipo: Ordem Religiosa Mendicante
  • Hábito: Capuz branco com capuz, cinturão e rosário que pende, escapulário e capuz preto, com capuz em cima de tudo
  • Características da Espiritualidade: Oração, Estudo, Pregação, Comunidade
  • Santos notáveis: Santo Tomás de Aquino, Santa Catarina de Sena, Santo Alberto Magno

Agostinianos (Ordem de Santo Agostinho)

  • Fundador: Papa Inocêncio IV, em um esforço para unir várias comunidades de eremitas na Itália. O papa deu-lhes o governo de Santo Agostinho.
  • Lema: “Anima una et cor unum in Deum” (Um coração e uma alma em Deus)
  • Tipo: Ordem Religiosa Mendicante
  • Hábito: Preto
  • Características da Espiritualidade: Viver o Evangelho e a liturgia, Comunhão de vida, A busca de Deus e da interioridade, Atividades apostólicas segundo as necessidades da Igreja, Estudo e cultivo do conhecimento
  • Santos notáveis: Santa Rita de Cássia

Carmelitas (Ordem Carmelita)

  • Fundador: Eles começaram como uma comunidade de eremitas no Monte Carmelo, na Palestina, inspirados pelo profeta Elias. Sua regra foi aprovada pelo Papa Inocêncio IV em 1247.
  • Lema: “Zelo zelatus sum pro Domino Deo Exercituum” (Com zelo fui zeloso do Senhor Deus dos Exércitos)
  • Tipo: Ordem Religiosa Mendicante
  • Hábito: hábito marrom e uma capa branca
  • Características da Espiritualidade: Contemplação e oração, Maria e o profeta Elias como modelos, Fraternidade, Serviço
  • Santos notáveis: Santa Teresa de Ávila, São João da Cruz, Santa Teresa de Lisieux, Santa Edith Stein

Mas qual a importância disso ?

O cristianismo foi assimilado e, depois da queda do império no Século V, a Igreja se tornou a autoridade dominante na Europa Ocidental, permanecendo assim quase mil anos. (DOUGLAS, 2016, p. 93). A Igreja possuía o desejo de unidade de poder, de restauração da antiga unidade perdida e se expressa na difusão do cristianismo que representa, na Idade Média, o ideal de Estado Universal.

Ponte entre o homem e Deus a Igreja teria a última ou a única palavra sobre o que deveria ser a vida de seu rebanho e sobre o que era o bem e o mal, o certo e o errado, o justo e o injusto. A Igreja não era poderosa apenas do ponto de vista espiritual, mas também político, ninguém melhor do que ela para dizer como Deus queria que a sociedade, que era baseada nas relações de suserania e vassalagem estabelecida entre oi senhor feudal e seus servos, fosse organizada. (VAINFAS et al, 2016, p. 93)

Nesse contexto, a Igreja exerce enorme influência, na medida em que mantém, inclusive, o monopólio do saber, pois só os monges tinham o direito de acessar os conhecimentos que representavam grande risco à soberania da Igreja. O intuito era manter a soberania da Igreja através da ignorância da sociedade que era dominada pelo medo de não estar agindo conforme os desígnios de Deus através da Igreja, sob pena de queimarem na fogueira da santa inquisição.

As congregações adaptavam os conhecimentos pedagógicos e técnicos desenvolvidos em seus países de origem à sociedade brasileira. Um caso exemplar é o dos maristas, que lidavam tradicionalmente com educação na França. Quando vieram ao Brasil, utilizaram seu conhecimento pedagógico para criar colégios e material didático. Os maristas foram responsáveis pela fundação, em 1901, da FTD (iniciais de Frade Théophane Durand, superior-geral da Congregação Marista de 1883 a 1907), editora paulista, até hoje uma das maiores do ramo de material didático.

Apesar da hegemonia da Igreja Católica na Europa, em outros lugares havia prosperidade cultural. A China e o Japão, em particular, desfrutavam de uma “Era de Ouro” na poesia e na arte, enquanto tradicionais filosofias, proibidas pela Igreja Católica na Europa, coexistiam livremente com suas religiões. (DOUGLAS, 2016, p. 71).

A Igreja tinha adotado o esforço de conciliar o cristianismo com o pensamento filosófico de Platão, que era mais fácil de assimilar com o pensamento cristão, através dos padres da Patrística, pois, somente seria possível combater as heresias e justifica a fé para convencer os pagãos da nova verdade e convertê-los. A hegemonia social e política da Igreja estava enfraquecendo em razão da retomada da filosofia de Aristóteles, em particular. Grandes filósofos como Roger Bacon, Tomás de Aquino, Duns Scotus e Guilherme de Ockham abraçaram com entusiasmo o novo aristotelismo e convenceram a Igreja de sua compatibilidade com a fé cristã. (DOUGLAS, 2016, p. 71).

Por esse motivo os pilares da sociedade ocidental são: o direito romano, a filosofia grega e a moral cristã.

Até 1580 somente os jesuítas tinham autorização para estabelecerem-se na Colônia, mas isso mudou nas seis décadas seguintes com a chegada de algumas antigas ordens religiosas fundadas ainda no período medieval. Esta “liberação”, se deu sobretudo graças a anexação de Portugal à Espanha, o que propiciou a vinda de Franciscanos, Carmelitas, Beneditinos, Mercedários e Capuchinhos.

Os Braços da Santa Sé

Até 1580 no Brasil, somente os jesuítas tinham autorização para estabelecerem-se na Colônia, mas isso mudou nas seis décadas seguintes com a chegada de algumas antigas ordens religiosas fundadas ainda no período medieval. Esta “liberação”, se deu sobretudo graças a anexação de Portugal à Espanha, o que propiciou a vinda de Franciscanos, Carmelitas, Beneditinos, Mercedários e Capuchinhos.

As ordens que chegaram ao território brasileiro tinham basicamente dois objetivos principais, primeiro de expandir as suas obras em novos territórios e segundo de responder às solicitações dos habitantes locais.

A motivação desse apelo para a vinda de religiosos do além-mar era dupla: em primeiro lugar, porque a ereção de um convento dava prestígio à localidade, facilitando assim a promoção de um povoado à categoria de vila e, por seu turno, permitindo que uma vila pudesse receber o título de cidade.

Outro grupo que se destacou neste período foram os dominicanos, que estabeleceram-se na região de Uberaba em Minas Gerais. Vindos da França em 1881, os dominicanos logo chegaram a então capital de Goiás e cinco anos mais tarde já erigiram um convento a cerca de 900 quilômetros de lá. Seu trabalho principal estava voltado às grandes incursões de missões populares, sempre cumprindo o rigor sacramental, base de sua espiritualidade.

Pelo lado da recepção, destacam-se os estados mais ricos, populosos e de maior influência política, como se pode ver no mapa seguinte. Os preferidos pelas congregações imigrantes eram São Paulo e Rio de Janeiro, seguidos de Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul, sendo os três primeiros os protagonistas na cena social e política desde os primeiros anos do período republicano. Os dois últimos — Paraná e Rio Grande do Sul — se beneficiaram da imigração por terem abrigado importantes contingentes populacionais, oriundos da imigração de colonos patrocinada pelo Governo Imperial no final do século XIX. Assim, as regiões rurais do Sul despertavam o interesse das congregações estrangeiras, enquanto as tradicionais e mais pobres seriam atendidas pelas brasileiras. A concentração no Sul e no Sudeste acompanha o deslocamento do desenvolvimento e da riqueza brasileira do Nordeste para o Sul e o Sudeste com o ciclo do café. Tal concentração corrobora as análises de Bourdieu (2011) sobre a relação do clero especializado com as sociedades urbanizadas e com a divisão do trabalho em manual e intelectual.

Missões das congregações

  1. - Evangelização (catequese, retiro, atividade pastoral, centro de cultura religiosa; combate ao materialismo ateu; pregadoras defensoras dos valores cristãos; trabalho pela justiça e pela paz; evangelização pela mídia — rádio, TV, jornal, revista)
  2. - Serviço missionário (missões em locais pouco assistidos pela Igreja e missões estrangeiras, África em especial)
  3. - Serviços litúrgicos (assistência a paróquias e santuários)
  4. - Oração e contemplação
  5. - Educação (escolas, colégios, educação técnica, educação doméstica, educação superior, formação religiosa para leigos e para o clero; educação para pessoas com deficiência (mudos, surdos, cegos)
  6. - Obras sociais (assistência a alunos, famílias, crianças vitimizadas, lares de acolhimento, hospedagem, pensionatos; asilos e orfanatos (assistência a crianças, velhos e demais necessitados); promoção da vida; pastoral carcerária; promoção da mulher; assistência a movimentos sociais (MST); projetos sociais (cidadania e qualidade de vida)
  7. - Saúde (assistência em domicílio, hospital)
  8. - Serviço aos pobres e prática da caridade
  9. - Informação não disponível

Total -260 congregações

Negócios

Uma das facetas mais visíveis do negócio católico no Brasil é a de comunicação. Fundada em Petrópolis em 1901, a Editora Vozes uma dos gigantes do ramo, com vendas anuais de 2 milhões de livros por ano.

Outro participante centenário do setor são os paulinos. Fundada por Tiago Alberione na Itália, a congregação posteriormente se dividiria em duas, com seus respectivos braços de comunicação. A Editora Paulinas, que ficou com as freiras, existe há 97 anos e atua em 52 países, mas a operação brasileira é a mais importante fora da Itália.

Já a Paulus, dos padres, tem programas de rádio em mais de 450 emissoras e 29 livrarias em capitais do país. A empresa divulgou um crescimento anual de 10% de 2011 para 2012, quando chegou aos 108 milhões de reais em receita bruta e 8 milhões de lucro.

Televisão e música

De meados dos anos 90 para cá, os padres católicos viram a ascensão das concorrentes e saíram do rádio para competir também nas telinhas. A Rede Vida é o principal exemplo deste fenômeno. Formada em São José do Rio Preto há 18 anos, ela é hoje a maior rede de TV católica do mundo.

Já a TV Século 21, financiada por meio de doações, ocupa um complexo em Valinhos, interior de São Paulo, e investiu recentemente 4 milhões de reais para digitalizar sua produção. Fundada pelo jesuíta americano Eduardo Dougherty, ela chega a 25 milhões de casas e tem até um núcleo de dramaturgia que, no momento, se dedica ao projeto de gravar o Evangelho na íntegra.

Educação

De acordo com a ANEC (Associação Nacional de Escolas Católicas), ligada a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), o ensino católico no Brasil emprega hoje 100 mil ss e alcança 1,5 milhão de alunos. São cerca de 400 instituições que mantêm 2 mil escolas e 180 obras sociais.

Só de ensino superior, são mais de 100 instituições católicas — entre elas, algumas das universidades mais prestigiadas do país, como as PUCs (Pontifícia Universidade Católica), mantidas por fundações e com finanças em situação difícil. A PUC de São Paulo, por exemplo, está começando a colocar seu endividamento sob controle após cortes drásticos e demissões em massa nos últimos anos.

Saúde

No setor de saúde, a situação também é complicada: as Santas Casas vêm tentado negociar alternativas com o governo para amenizar uma dívida que já bate nos 15 bilhões de reais. Somados repasses do SUS (Sistema Único de Saúde) e de convênios, a rede teve cerca de 2 bilhões de reais de receita bruta em 2012.

De acordo com a CMB (Confederação das Santas Casas de Misericórdia, Hospitais e Entidades Filantrópicas), 41,2% das internações do SUS passam pelos seus 3.067 estabelecimentos, que concentram 35% dos leitos do país. Nem todos, porém, estão associados à Igreja Católica.

Terras

A Igreja Católica e suas instituições são donas de pelo menos 330,6 mil hectares de terra no campo em todos os Estados do Brasil. Os números foram levantados a partir de documentos da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).
O lucro líquido do Instituto para as Obras da Religião (IOR), também conhecido como Banco do Vaticano, mais do que dobrou em 2019, chegando a 38 milhões de euros.

Os principais dados financeiros de 2019 para o Instituto são os seguintes:

- 5,1 bilhões de euros em depósitos de clientes (5,0 bilhões de euros em 2018), dos quais 3,4 bilhões de euros relativos à economia gerida e à custódia de títulos;

- lucro líquido de € 38,0 milhões (€ 17,5 milhões em 2018), resultado do processo de investimento risk-based, e coerente com a ética católica, aplicado à gestão dos próprios ativos;

  • € 630,3 milhões o patrimônio em 31 de dezembro de 2019, líquidos da distribuição de lucros. Além disso, o Instituto mantém um alto nível de liquidez, com um índice de cobertura de liquidez LCR de 443% e um coeficiente de financiamento estável da NSFR de 1008%.

O Projeto GoodLands ( https://www.arcgis.com/apps/Cascade/index.html?appid=3fa4cf9a093b4d8192ad35d275dc3009 ) mostras as terras em posse da Igreja em todo mundo.

Armas

A fábrica de armas Pietro Beretta ltda (uma das maiores indústria de armamentos do mundo) teria como segundo acionista majoritário (após Gussalli Ugo Beretta), o IOR (Instituto para Obras da Religião)

É um grande paradigma. Vamos só pensar que a Igreja tem mais do que o suficiente para financiar projetos que acabem com a fome no mundo, e solucionem a questão da reforma agrária. Mas acabar com um problema em que você atua como protagonista, recebendo holofotes pelas doses de caridade homeopáticas não é muita vantagem não é mesmo ?

O grande negócio da Igreja, historicamente sempre foi e ainda é: influência.

E o meio de disseminar numa estratégia de dividir e conquistar foi por meio de suas ordens, algo que se analisarmos, nenhuma outra religião conseguiu ser tão versátil. Ora, em uma comunidade mais humilde, franciscanos, em uma mais elitizada, Jesuítas, em uma com um nível de cultura mais elevado, Dominicanos e assim vai.

O importante é sabermos de onde vem certos dogmas e influências em formação e sociedade, que começam em nosso ensino básico quando crianças como demonstrado acima;

“Este jogo de interesses presente na relação entre o Estado e a Igreja sempre esteve carregado de simbologia que garantiam a manutenção de uma estrutura dominante. Estes símbolos tornam-se elementos indispensáveis na compreensão da cultura e da sociedade. Pierre Bourdieu em sua obra explica que, o poder simbólico é, com efeito, esse poder invisível o qual só pode ser exercido com a cumplicidade daqueles que não querem saber que lhe estão sujeitos ou mesmo que o exercem”9 . Bourdieu utiliza esta frase para descrever o cuidado com algo que está em toda a parte e muitas vezes é ignorado.

O entendimento do poder simbólico parece ser imprescindível no pensamento de Bourdieu, sobretudo no que diz respeito às ciências sociais, pois a utilização das estruturas simbólicas na leitura do mundo e a consequente necessidade da sua teoria na discussão de assuntos relacionados à educação, cultura, arte, literatura e religião, trazem consigo a reflexão sobre a relação de força entre os agentes que permitem encontrar um sentido para uma determinada realidade.”

Para Bourdieu, o poder simbólico é um poder de construção da realidade que tende a estabelecer uma ordem gnoseológica: o sentido imediato do mundo (e, em particular, do mundo social)… . Portanto, para compreender os fatos de uma determinada sociedade, é necessário entender as estruturas existentes e as relações da comunidade com esta estrutura, pois o conjunto simbólico é, na maioria das vezes, produzido para satisfazer os anseios de uma classe dominante, por isso a importância de uma interpretação minuciosa desta simbologia.

Partindo deste pressuposto, Bourdieu destaca que,

“A cultura que une (intermediário de comunicação) é também a cultura que separa (instrumento de distinção) e que legítima as distinções compelindo todas as culturas (designadas como subculturas) a definirem-se pela sua distancia em relação à cultura dominante.”

Essas relações de comunicação são portanto relações de poder determinadas pelo poder simbólico acumulado e os sistemas atuam como instrumentos estruturados e estruturantes de disseminação de conhecimento, assegurando assim a legitimação do pensamento de uma ou mais instituições dominantes.

Partindo do pressuposto que as duas esferas do poder, Igreja e Estado, detinham o controle do poder simbólico, é natural que não tivessem interesse em interferir uma na estrutura da outra, pois não gostariam de ter seus interesses contestados.

Então, nasça numa Santa Casa, dirija um Fiat, compre uma Beretta, estude em uma PUC , e repouse em um Asilo de São Vicente e quem sabe..vá para o paraíso.

--

--

Bruno Oliveira

Mestre Maçom da Loja Colunas da União n175 - Grande Loja do Paraná. Administrador de Empresas, Professor e Coordenador na UNIPAR - Universidade Paranaense .