A Farsa dos Índices de Empregos e Empresas na Pandemia.

Bruno Oliveira
6 min readAug 31, 2021

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Esses dias , em um grupo de Whatsapp, presenciei um situação inusitada.

Pessoas exaltando índices econômicos sem a devida análise, explico. Corriqueiramente, é normal as pessoas pegarem índices na Internet, e saírem argumentando dizendo que são informações técnicas.

Eu, pessoalmente, desconfio sempre que alguém vem com o novo modismo do momento que é “ser” técnico, até porquê, em termos de conhecimento a Técnica esta um degrau abaixo da Ciência, a técnica está intimamente ligada ao modo de “como se deve fazer”. Já a ciência se insere nos conhecimentos necessários para se pôr em prática a utilização da técnica, ou seja, sem ciência você pode ser bom em executar algo, mas numa análise macro, em que se analisa, por exemplo, não a atividade de cortar um árvore, mas qual árvore cortar, a técnica se limita.

Os clássicos Trivium e Quadrivium, que englobam as sete artes liberais, iriam prevenir esses equívocos. Mas eles exigem leitura e estudo, coisa que o imediatismo da sociedade contemporânea não tem mais tempo ou vontade. Por meio da Lógica, poderíamos relacionar que, um índice positivo de empregos, em uma cidade que teve uma elevação no número de moradores de ruas, que é perceptível a olho nu, em praças e caminhos do município, tem algo errado.

Exemplo de discrepância de dados, se temos mais empregos não deveríamos estar melhores ?

Isso, me motivou, a no começo de 2021, a oferecer um curso de Análise e Interpretação de dados, quando não se pode fazer algo assim, ao menos, o bom senso deveria prevalecer.

Vamos lá !

Os governo federal , os estaduais e municipais, tem comemorado recordes na criação de empregos com carteira assinada, como se os números hoje fossem os maiores desde 1992. Mas essa comparação não pode ser feita porque houve mudança de método na coleta dos dados. A alteração foi em 2020, e o levantamento passou a usar dados mais abrangentes. Foi incluída mais gente, como trabalhadores temporários, que não eram contabilizados antes. Isso torna os resultados incomparáveis. (https://economia.uol.com.br/empregos-e-carreiras/noticias/redacao/2021/03/29/desemprego-caged-empregos-governo-serie-historica-metodologia.html )

Embora a mudança de metodologia seja informada nas notas técnicas do Ministério da Economia, ela é omitida em publicações oficiais e em discursos e mais ainda em conversas pela internet.

De 1992 até dezembro de 2019, os dados sobre o mercado de trabalho formal tinham como base o Caged — Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, que monitora admissões e demissões no regime da CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas). A partir de janeiro de 2020, a divulgação trouxe informações de três sistemas: Caged, eSocial e Empregador Web (onde se registram os pedidos de seguro-desemprego).

Essa reunião de dados complementares foi batizada de Novo Caged.

No eSocial, todos os trabalhadores formais precisam ser registrados, inclusive bolsistas, temporários, agentes públicos e dirigentes sindicais. Já o Caged dispensa o registro de diversas categorias, como:

Servidores e empregados públicos (federal, estadual, distrital ou municipal) Avulsos

Diretores sem vínculo de emprego

Dirigentes sindicais

Autônomos

Eventuais Políticos (cargos eletivos)

Estagiários

Domésticos

Cooperados ou cooperativados

Trabalhadores com contrato de prazo determinado

Como o novo sistema inclui muito mais gente, o resultado de emprego fica diferente do que era obtido antes dessa mudança. E tende a mostrar um número melhor.

Nota Técnica do Ministério do Trabalho sobre o Novo Caged.

Agora pergunto, quando as pessoas apresentam índices positivos exaltando determinada gestão, elas explicam isso ou somam os trabalhadores acima nos anos anteriores para uma comparação honesta ? Raras vezes.

Umberto Eco, escritor e semiólogo ( a ciência geral dos signos que estuda todos os fenômenos de significação na linguagem), fala que existe a Interpretação, que é quando você tira significados de informações, mas existe a SUPERINTERPRETAÇÃO, que é quando as pessoas fazem análises além das informações que os dados trazem, e isso é um erro.

Notícia sobre renda.

Sobre estatística.

Aqui esta um divisor de águas. Se na nação tupiniquim, alguns fogem de cálculos, imaginem de cálculos estatísticos.

Uma curiosidade sobre a estatísticas do desemprego: Na pandemia, muita gente deixou de procurar emprego -para se proteger da covid-19; porque não tinha com quem deixar o filho; ou porque cansou de receber negativas. Se a pessoa passar mais de 30 dias sem procurar emprego, ela não entra nas estatísticas da taxa de desemprego. É como se ela se tornasse invisível para as contas do mercado de trabalho.

Sobre empresas.

O MEI, é um modelo empresarial simplificado, com limite de faturamento anual de R$ 81 mil, criado para facilitar a formalização de pessoas que trabalham de maneira autônoma, mesmo se tratando de uma empresa não é necessário realizar investimentos estruturais desnecessários.

Muitas atividades podem ser realizadas no conforto do lar do empreendedor, ou seja, muitas vezes o chamado MEI, se torna um subemprego ( sub-utilização de um trabalhador, devido a este se sujeitar a um trabalho que não usa suas habilidades, que é de jornada parcial, ou que deixa o trabalhador ocioso, com uma renda baixa) formalizado.

Além disso, temos dentro do empreendedorismo, a inciativa de oportunidade, quando surge uma situação favorável para a abertura do negócio. Porém as aberturas de empresas na Pandemia, em sua maioria são da Iniciativa de NECESSIDADE, quando as pessoas aceitaram o desafio de um negócio autônomo devido à falta de melhores alternativas profissionais. Elas precisam produzir renda o quanto antes para si mesmas e suas famílias.

Exemplo: Motoristas de aplicativo, esses dias um motorista de Umuarama-PR, formado em engenharia civil, me contava sua história e da questão de não encontrar emprego o forçou a fazer corridas por aplicativo, um subemprego já que não usa suas capacidades técnicas plenas e o faz aceitar uma renda abaixo da necessária, porém esse precisou abrir uma MEI. Ou seja, inflaram os números de abertura de empresas de MEIs na Pandemia, e de geração de empregos pelo NOVO CAGED, vejam o conflito de informações e superinterpretação de dados.

Aumento da pobreza. Uol Notícias

Sobre Renda

A renda na pandemia ficou pior para 62% dos brasileiros, segundo pesquisa realizada entre os dias 24 e 26 pelo PoderData e divulgada nesta segunda-feira (31). A coleta de dados mostra, ainda, que 60% dos entrevistados afirmaram terem deixado de pagar alguma conta no último mês. ( https://www.redebrasilatual.com.br/trabalho/2021/05/emprego-renda-pandemia-pesquisa/ )

Pandemia derruba renda média do trabalhador brasileiro a R$ 995-
a remuneração média recebida pelos profissionais caiu 11,3% e figura 9,5% abaixo do salário mínimo, indica estudo da FGV Social.

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Na era da internet, as pessoas tem a ilusão que podem falar qualquer coisa, e dar uma “googlada” para ter a informação correta. Falácia. O estudo sistêmico de uma ciência como economia, da embasamentos como do texto acima, para que informações erradas sejam repassadas. O jornais e veículos de mídia, erram e muito, a internet em suas primeiras páginas, trazem muita informação errada, e base de dados de CAGED, que não são privilegiadas e tem acesso aberto disseminado, mesmo com senha, possuem base de dados com conflitos temporais e de formação de índices. A Ciência nesse sentido, supera a “Técnica”.

Mas no fim, senhores, é apenas questão do bom e velho bom senso, afinal se os índices são bonitos e belos, mas a realidade que vejo pela cidade é feia e cruel, com empresas fechando e moradores de rua pedindo esmola, existe algo errado, não é mesmo ?

Brasil, o país da criatividade estatística. Paremos com essa patifaria !

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Bruno Oliveira

Mestre Maçom da Loja Colunas da União n175 - Grande Loja do Paraná. Administrador de Empresas, Professor e Coordenador na UNIPAR - Universidade Paranaense .